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Terapia em foco Por Roberta de Lucca (Revista Vida Simples páginas 28 a 39 – Edição Julho de 2007) Quando percebemos que não conseguimos mais lidar com nossas dificuldades e que precisamos de ajuda, a saída pode estar na terapia, um caminho surpreendente de autodescoberta. Uma gota a mais e o copo transborda. A metáfora sobre algo que não conseguimos conter desenha a
imagem do que acontece nos momentos em que não damos conta de resolver sozinhos um problema
que incomoda bem lá dentro da gente. Ao atingirmos essa situação-limite, a água escorre e nos vemos
no impasse de matar, morrer ou de nos fingirmos de mortos. Matar é buscar soluções. Morrer é se
deixar aniquilar por ela. Fingir de morto é olhar para o lado, agindo como se a coisa não fosse com
você. Eis aí três possibilidades do que cada um de nós, como indivíduos (na mais pura acepção da
palavra, aquilo que não se divide), podemos fazer com nossas vidas quando algo não vai bem em
nosso íntimo. Tudo é questão de escolha, e essa opção determina como viveremos e quem seremos
Dentro dessas possibilidades, vamos falar da parcela que encara sua verve Bruce Wil ys em Duro de
Matar e parte para o combate. Calma, ninguém vai sair por aí batendo nas pessoas que nos causam
problemas, nos decepcionam ou representam o que gostaríamos de ser e não somos. Ir à luta tem um
sentido mais pessoal, de mergulhar em uma jornada que nos colocará em confronto com nosso maior
Na batalha, é importante contar com a expertise de um bom navegador que ajude a interpretar as
coordenadas do trajeto até o entendimento de por que o copo transbordou. Esse companheiro de
jornada estudou o funcionamento da mente humana e seus meandros, e, quem sabe, nos fará chegar
ao registro da torneira para evitar um novo transbordo. Assim define-se o terapeuta, palavra que
nomeia psicanalistas, psiquiatras, psicoterapeutas e outros profissionais que trabalham com técnicas
de autoconhecimento (vale explicar que os termos terapia e terapeuta usados nesta reportagem
referem-se a profissionais com formação acadêmica e cursos de especialização em estudos da mente).
É com eles que contamos quando não conseguimos evitar que a gota letal cause sofrimento emocional.
Ao pedir socorro e nos lançarmos ao desafio de fazer terapia, embarcamos numa viagem ao
inconsciente aquele local dentro de nós que guarda o que somos, como nos tornamos o que somos, o
O começo: Freud
Existe ainda muita gente que vê a psicoterapia como tratamento para malucos ou para pessoas sem
capacidade de lidar com seus próprios problemas. O ranço é antigo, do tempo em que a subjetividade
era malvista pela ciência. Remanescentes desse pensamento acreditam que um antidepressivo como
Prozac na mão vale mais que boas palavras. Mas quem aposta na fala como instrumento de expressão
sabe que entrar num consultório e se entregar a um momento esta é sua vida com um desconhecido é
uma forte ferramenta para tirar o pedregulho do sapato. A verbalização para descrever fatos e estados
emocionais ajuda a processá-los e a torná-los palatáveis, afirma o psiquiatra e psicanalista Plínio
Montagna. Ao contar o que sente, a pessoa se ouve e amplia a consciência de si própria.
Graças ao médico austríaco Sigmund Freud, que formulou os princípios da psicanálise na década de
1890, hoje sabemos que é possível entender a mente humana e mudar aspectos de nossa conduta que
incomodam tanto no relacionamento com os outros quanto conosco mesmos. A partir da descoberta do
inconsciente, Freud revelou ao mundo que muitos transtornos mentais não são mero resultado de
doenças. Conteúdos guardados em nosso interior, oriundos de sentimentos inconscientes reprimidos
na infância por nossos pais, moldam a figura que somos hoje.
É bom para quem?
Tal entendimento garantiu conhecimento não só para o tratamento de doenças psíquicas resultantes de
distúrbios do inconsciente, como também para que uma pessoa como eu ou você possa se conhecer
melhor e entender por que o calo dói quando pisamos (ou somos pisados) de determinada maneira. O
costume é alguém buscar ajuda porque se sente incapaz de resolver seus incômodos e, em raros
casos, para se conhecer melhor. Mesmo na primeira situação, é quase inevitável não continuar a
terapia, pois conforme se enxerga com mais clareza, mais o paciente quer se aperfeiçoar é como polir
uma escultura para que ela fique cada vez mais bela.
No campo das doenças mentais, a psicanálise contribui para humanizar bastante o tratamento. Hoje,
uma pessoa esquizofrênica toma medicamentos prescritos por um médico psiquiatra e tem apoio
psicoterapêutico. Transtornos alimentares, bipolares, déficit de atenção e depressão, entre outros,
precisam do critério médico para concluir o diagnóstico. Às vezes, o limite da avaliação de uma
depressão para um transtorno bipolar é tão tênue que só a experiência médica pode detectar a doença,
diz o psiquiatra Frederico Navas Demétrio, coordenador do Grupo de Estudos de Doenças Afetivas do
O olhar afinado também sinaliza quando tudo pode ser resolvido só com psicoterapia. Muitas vezes, a
conversa é mais eficaz que o Prozac. Antidepressivo lançado com estardalhaço em 1986, a tal pílula da
felicidade aumenta a serotonina do cérebro, deixando as pessoas mais alegres. Fácil de administrar,
até um ginecologista pode receitá-la para aliviar sintomas de distúrbios hormonais. O problema é o mau
uso e a auto-enganação (o famoso efeito placebo). O efeito pode ser efêmero: quando tomo, sorrio,
quando o efeito passa, entristeço, afirma a psicoterapeuta e professora do Instituto Sedes Sapientiae
Existe melhor técnica?
Depois de Freud, um mundo de vastas possibilidades se abriu além da fronteira da doença e hoje
existe terapia para todo tipo de paciente. Parece meio amplo? E é. Se considerarmos todos os
tratamentos do campo do autoconhecimento, indo do xamanismo à psicanálise, existem mais de 500
modalidades. Mas a maioria não tem embasamento mais científico, no sentido do entendimento da
mente humana, afirma o médico psiquiatra e presidente da Associação Brasileira de Psicoterapia, José
Toufic Thomé. Levando em conta esse critério, a psicanálise e a psicoterapia praticadas por
psicanalistas, psiquiatras ou psicólogos têm melhor embasamento para a análise humana.
Geralmente, a pessoa chega a um terapeuta por indicação de um amigo ou parente. Ela não está
interessada na técnica, só precisa de alguém que a ajude a entender o que está acontecendo e para
isso não há idade; a necessidade pode surgir em qualquer época da vida. Existem bons profissionais
em todas as linhas. Não há uma escola terapêutica de amplitude absoluta. O importante é a empatia
paciente-psicoterapeuta e que o profissional tenha boas referências, seja membro de uma associação
ou sociedade de classe reconhecida, diz Maria Helena Guerra. Outro componente decisivo apontado
por muitos entrevistados desta reportagem é que o bom psicoterapeuta nunca diz o que o paciente
deve fazer. Ele auxilia a pessoa a navegar em suas emoções e a se compreender, diz a psicoterapeuta
A confiança essencial
Uma boa indicação, portanto, é o começo do caminho para se chegar a alguém que tenha tato e
técnica para orientar a navegação por águas ora turbulentas, ora cristalinas do inconsciente esse mar
que guarda a chave dos nossos mistérios, desde os aceitáveis até os inimagináveis. Fazer terapia é um
ato de coragem, porque as descobertas podem ser viscerais, afirma o médico psiquiatra e psicanalista
Durval Mazzei Nogueira Filho. Chegar a esse patamar de escarafunchar a ferida com bisturi depende
de o paciente querer ir mais além da resolução do problema imediato.
Também é importante estar bem acompanhado. O paciente tem que sentir que o terapeuta está com
ele, diz Adriana Dorgan. Quando isso não acontece, é como um carro patinando na lama. Durante anos
fiz terapia com a mesma psicóloga, mas quando ela começou a dizer que minhas dúvidas com relação
à minha sexualidade eram viagem da minha cabeça, parei a análise. Procurei outro terapeuta e
conquistei autonomia para assumir minha homossexualidade, diz Felipe (o nome foi trocado a pedido
Fala que eu te escuto
Nem todo mundo se dispõe a conversar com o psicanalista três ou quatro vezes na mesma semana,
deitar no divã e falar o que lhe vier à mente assim, de chofre. Esse é o molde clássico da sessão de
psicanálise elaborado por Freud, que resiste ao tempo e ao bolso de alguns clientes.
O ambiente costuma ser básico: a poltrona do analista e o divã. Nesse cenário quase asséptico, o
paciente fala sobre aquilo que pensa, seus incômodos, suas angústias. Nos encontros com o
profissional, a idéia é reestruturar e reinterpretar, à luz do que está acontecendo, as distorções do
passado que estão presentes no dia-a-dia, diz a psicanalista Anna Verônica Mautner.
A ausência de contato visual no processo de livre associação, como é chamada a técnica de deitar e
falar, é fundamental para o sucesso da jornada. Um não controla a reação do outro com o olhar,
permitindo ao paciente abandonar a vigilância consciente e se entregar à expressão verbal, afirma a
psicanalista Celina Giacomel i. Assim aflora o sintoma daquilo que faz mal. O passo seguinte é
Às vezes, esse processo de deixar fluir o verbo ganha um componente extra, de certo modo
emocionante, quando o terapeuta segue a linha criada por Jacques Lacan nos anos de 1930. O
psicanalista francês concebeu o tempo lógico, colocando abaixo a regra freudiana de que a sessão
teria 50 minutos. O analista literalmente corta o papo na hora em que achar pertinente. As pessoas
falam muito, e a fala pode vir disfarçada. O psicanalista interrompe o paciente para que ele se ouça e
entenda que precisa deixar de usar álibis, diz Durval Filho. Depois do corte abrupto, o analisado engole
seco e vai embora com suas últimas palavras latejando na cabeça no estilo água mole em pedra dura
Olhos nos olhos, poltronas frente a frente e mesinha auxiliar com uma caixa de lenços de papel. O
cenário, parecido com uma sala de visitas, é o mais comum nos consultórios. Nesse ambiente de
proximidade, o paciente dialoga com o terapeuta. Na conversa com um adepto das teorias do suíço
Carl Gustav Jung, ex-discípulo de Freud que, em 1913, cunhou o termo psicoterapia analítica para
determinar seu método de trabalho, a análise leva em conta não apenas as questões internas e
individuais do paciente, mas também fatores externos, disseminados pelo consciente e pelo
Características familiares e contexto social e cultural ativam elementos do inconsciente, contribuindo
para moldar quem somos. Por isso Jung acreditava que não basta entender o problema. A
compreensão é racional, e as pessoas têm que entrar na emoção contida naquela vivência. Ao viver a
descoberta, a pessoa libera a sensação que estava presa. O paciente tem a possibilidade de se
transformar pela consciência de seus complexos e da iluminação dos seus bloqueios e fraquezas,
afirma o psiquiatra e psicoterapeuta Eliseu Labigalini Junior.
Corpo e mente
Se a mente fala, o corpo faz igual e antes mesmo da fala. O bebê se expressa com gestos, olhares,
caretas e sorrisos. Ao crescer, essa espontaneidade fica mais contida, mas o vocabulário corporal
permanece latente aos olhos de quem sabe ver. Respiração acelerada ou curta, suores, ombros para
frente, a maneira de cruzar braços ou pernas, tudo isso e muito mais denunciam aspectos internos do
que passamos, estamos passando ou nos tornamos. A partir da observação desses sinais, o psicólogo
austríaco Wilhelm Reich elaborou um trabalho na década de 1920 que culminou no surgimento da
Implacável, o terapeuta analisa tudo o que se passa com o paciente. Antes de verbalizar, as pessoas
sentem. Por isso é importante observar e traduzir essas sensações, diz o terapeuta corporal Rubens
Kignel, que dá cursos de especialização no Brasil, Itália, França e Japão. Durante a conversa, tudo
pode acontecer de um convite para o paciente deitar num divã king size e levantar as pernas para o
O dinamismo também tem lugar no psicodrama, outra técnica que faz a pessoa resgatar o momento
que incomodou como se estivesse encenando uma peça de teatro. Ele revive o que aconteceu e
também se coloca no lugar do outro. A inversão de papéis faz com que a pessoa aprenda a responder
de maneira inovadora a situações que já viveu, afirma a diretora do Instituto Psico-Social e Educacional
da Associação Brasileira de Psicodrama, Maria Aparecida Fernandes Martin.
O casal, a família
Como a maioria de nós não vive em uma caverna, longe de tudo e de todos, nossas ações refletem na
vida dos outros e vice-versa principalmente no universo familiar, onde estabelecemos ligações mais
intensas. Não há como negar que o sucesso de qualquer relação interpessoal depende do esforço de
ambos, especialmente quando o assunto é casamento. Aqui a seara às vezes é tão complicada que só
recorrendo à bóia para se safar do afogamento. Daí o surgimento da terapia de casais, geralmente
procurada quando a dupla chega ao clímax da crise.
Na análise, o que entra em cena é o nós. Marido ou mulher podem buscar ajuda individual, mas,
quando estão juntos na sala do psicoterapeuta, o que se discute é a terceira pessoa da relação. O
terapeuta não é conselheiro matrimonial, e sim um intérprete das falas. Ele ajuda o casal a aprender a
conversar e a se ver, diz Louise Madeira, especialista em família.
Por outro lado, uma crise abafada pode desencadear problemas nos filhos, que começam a apresentar
mau rendimento escolar ou dificuldade de relacionamento. Foi assim que a secretária executiva
Valentina Ceresatto foi aconselhada pela terapeuta de sua filha a procurar ajuda após a morte do
marido. Valentina não queria que a menina a visse triste e ativou seu lado de mulher forte. Mas a
adolescente pensou que a mãe não estava ligando para o que aconteceu, e começou a ter um
comportamento estranho. Eu a levei para a terapia e logo a psicóloga percebeu que era eu quem
precisava cuidar do meu sofrimento, diz.
Terapia breve
Sofrimento é o que desencadeia o processo da gota dágua, pegando as pessoas no contrapé e até em
situações inusitadas. Imagine que uma promoção pode gerar tamanha insegurança no felizardo que ele
precisa de auxílio para superar o choque e tocar a vida. A perda do emprego ou a notícia de uma
doença grave também ativam o gatilho do transbordo. Para casos decorrentes de eventos específicos,
Chama-se breve porque tem uma data estabelecida para começar e terminar. O contrato entre paciente
e terapeuta estabelece o número de sessões necessárias para a resolução da questão, chegando a
uma média de 20 encontros. O objetivo é auxiliar a pessoa a se adaptar àquela nova realidade, diz a
professora do Instituto de Psicologia da USP Kayoko Yamamoto. A publicitária Valéria (nome fictício)
apostou em alguns encontros psicoterápicos para driblar a depressão pós-parto. Achei que eu não
seria capaz de criar um bebê com os cuidados necessários. A terapeuta me fez ver que a criança não é
um ET e me ajudou a superar meus medos, afirma.
Como foi dito lá no início, fazer terapia é lançar-se ao desafio de resolver um problema urgente ou
aventurar-se a descobrir mais sobre si mesmo. O mergulho nos labirintos do inconsciente, que revela
quem somos, pode fazer toda a diferença para determinar quem desejamos ser. Terapia não tem
garantia ou prazo de validade porque as pessoas mudam, porque a vida muda. E, posto que é
mudança, nem todo mundo aceita ser igual durante toda uma vida.
Para saber mais
Lacan, O Grande Freudiano, Marco A. Coutinho Jorge e Nadiá P. Ferreira, Jorge Zahar Editor
Welt-Anti-Doping-Agentur DIE VERBOTSLISTE 2009 INTERNATIONALER STANDARD Diese Liste tritt am 1. Januar 2009 in Kraft. "INOFFIZIELLE ÜBERSETZUNG DER OFFIZIELLE WORTLAUT DES "WADA DIE VERBOTSLISTE 2009" WIRD IN ENGLISCHER UND FRANZÖSISCHER SPRACHE VON DER WELT-ANTIDOPINGAGENTUR GEFÜHRT UND IST AUF DER WEBSITE DER WADA VERÖFFENTLICHT. IM FALLE WIDERSPRÜCHLICHER AU
Influência das doenças periodontais sobre as cardiopatias coronarianas Tatiana Dalla Costa1Gilberto Ferreira da Silva Júnior2Marilisa Lugon Ferreira Terezan3 Resumo O presente estudo teve por objetivo realizar uma revisão da literatura referente à associação entre infecções dentárias, mais especificamente a doença periodontal, e as cardiopatias coronarianas, apresentando dados e