Rubem Braga, Antônio Bôto e o Vernéculo
ser famoso. Era um grande poeta, assim qualifi-
cado pelos melhores críticos e, entre nós, por
do-me a passar uma temporada com ele.
Manuel Bandeira. Grande poeta, também, para
seu amigo íntimo e confidente Fernando Pessoa,
da vida. “Nada, nada de novo, rien de rien”,
que publicou na sua editora (dele, Pessoa), a
escrevia, citando Edith Piaf. “Devo armazém,
Olisipo, uma segunda edição das Canções do
devo apartamento, e me porto seguramente im-
jovem poeta (então com 20 anos), e lhe dedicou
passível, e no fundo tranqüilo qual recôndita
um artigo de grande repercussão, “António
cacimba, do que saio às vezes para golpetes
Botto e o ideal estético em Portugal”. Esse livro,
fracos e indecisos. Nem drama! Nem nuvem!
que tinha causado escândalo, era violentamente
erótico e apologista do “amor grego”. Pobre
terrível de, ficando bêbado, estar sem assunto
Bôto, pagou caro por ser homossexual assumido
para me exaltar ou me entristecer.(.) Venha,
num tempo de ferozes preconceitos, muito mais
no soturno Portugal salazarista do que no Brasil
Diante desse imperioso convite, arranjei um
tropical sob a ditadura de Getúlio Vargas. Talvez
pretexto qualquer e me toquei para a Paulicéia
acreditando que “não existe pecado do lado de
no trem noturno da Central do Brasil. Rubem
baixo do Equador”, o poeta veio procurar refúgio
trabalhava no Estado de S. Paulo, mas, sem liberdade para es-
aqui. Fez bons amigos; mas sempre viveu pobremente e morreu
crever suas crônicas maravilhosas, porém subversivas para o
na miséria em 1959, no Rio de Janeiro.
Estado Novo, ficava reduzido a uma reles “cozinha de jornal”,
Manuel Bandeira foi dos que mais lhe deram apoio, embora
e ganhava pouco. Um dos seus expedientes, por fora, era fazer
sentisse remorso por não ter agradecido o soneto que o portu-
traduções. Quando lá cheguei ele enfrentava de muito má von-
guês lhe dedicou pelos seus 70 anos, em 1956. Homenageou-o
tade um romance de Vicki Baum, na época célebre autora, hoje
com esta quadra quando soube de sua morte:
completamente esquecida, pois tal é o destino dos produtores debest sellers ao gosto do mercado. Rubem traduzia do francês, já
que do alemão original, nem pensar. Fez comigo um negócio de
amigo. Para ganhar tempo e ao mesmo tempo me dar ocupação,
passou-me o encargo: eu traduzia, ele revia e tinha a responsa-
bilidade de assinar, e me pagava uma parte razoável.
Acontece que logo descobrimos uma excelente tradução desse
Bandeira o dizia “além de grande poeta, um grande inventor
livro publicada em Lisboa. O francês foi posto de lado e eu me
de mentiras”. Registrou numa crônica este caso, que mostra o
entreguei à tarefa de passar o português de Portugal para o nosso
humor instantâneo de Bôto. Numa reunião em São Paulo, em
linguajar brasileiro. Coisa de manipular pronomes e concordân-
1945, comentava-se a morte recente de Mário de Andrade, e
cias, trocar a sintaxe da gramática lusa pela nossa modernidade,
Bôto falou, pesaroso, da primeira vez que o viu, em Lisboa.
substituir palavras. Por exemplo: escrever fila em vez de bicha,
Estava tomando banho quando o criado veio lhe anunciar a pre-
bolso em vez de algibeira, menino por miúdo ou puto, trem em
sença de Mário de Andrade. Sem se enxugar, nu como estava,
vez de comboio etc. Até que era divertido.
Nessa estava eu quando um dia apareceu de visita a Rubem
– Mas o Mário nunca saiu do Brasil – interrompeu-o alguém.
Braga o poeta Antônio Bôto (em Portugal, António Botto).
Rubem me apresentou como “o meu amigo Werneck, que apesar
– Ah, não? Então devia ter sido o Wilde, ou o Proust.
desse nome alemão é neto de português”. Bôto se deu conta do
Rubem Braga continuou a traduzir de vez em quando. Nunca
trabalho insólito que eu fazia, batucando na máquina com o livro
mais do “vernéculo” que tinha sido a minha contribuição no caso de
Vicki Baum. Pouco depois, no Rio, traduziu Terra dos homens, de
– Com que então tu estás a traduzir do vernáculo para o ver-
Saint-Exupéry, a quem batizou familiarmente de Santo Exupério –
o bravo aviador e escritor francês de quem gostava de citar a frase:
Imensa piada tinha o gajo. Mas, a esta altura preciso explicar
“Quando a noite chegar, lerei o meu caminho nos astros”. Mais tar-
melhor quem era Antônio Bôto, nome que hoje no Brasil nin-
de traduziu uns contos de Oscar Wilde. E assim se encerrou a “car-
guém mais conhece, e mesmo em Portugal parece que deixou de
reira” de tradutor de Rubem Braga, que ninguém é de ferro.
Wenn man zunehmend in die primäre Sozialisation eingreift, ihrer “Selbstregulierung” imRahmen alltäglicher lebender Systeme misstraut, sie faktisch zur Erziehungssituation umbaut,dann kommt es schnell zu einer Überlastung (Süddeutsche Zeitung 13.12.2008 WERNER BARTENS) Jetzt mal ganz ruhig - Das Zappelphilipp-Syndrom bleibt umstritten - zu oft vermuten überforderte Eltern und Ärzte
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