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Fotografia Observances
Revelações do
M
Sergio Mota
18 Atrium
A fotografia representa uma espécie de visualidade primeira, Menos é mais
que, quase submersa durante séculos no terreno da Tudo o que passa pelo crivo de sua objetiva ganha a possibi- oralidade e da escrita, remontou, muito recentemente, à superfí- lidade de esconder um instante revelador, como se houvesse a cie. A revelação do mundo veio, portanto, através de uma medi- preocupação de chamar a atenção do espectador para os peque- ação técnica suplementar. O próprio dispositivo fotográfico e o nos detalhes dessas comunidades judaicas de todos os cantos do signo visual singular que este proporciona foram os canais dessa mundo. A olhares desatentos oferece-se a possibilidade de vis- mediação. O entendimento de tal processo permite afirmar que lumbrar vestígios nada óbvios de uma realidade singular que tem a fotografia começa com a experiência do ato que revela o instan- nos rituais ancestrais sua principal matéria.
te captado em sua mais inescapável verdade.
Dentro desse raciocínio, a exposição incluiu imagens como a Em torno dessa idéia gravita o contexto de Observances –
do casamento judaico na Toscana, o interior de uma sinagoga na fotografias de Emmanuel Santos, em cartaz no Centro Cultu-
Ucrânia, o bar mitzva em Buenos Aires e o costume judaico de ral Justiça Federal até o início deste ano. Com a intenção de alimentar elefantes com amendoins, na Índia, ao final do dia de registrar toda uma tradição histórica e religiosa do povo judeu, a Yom Kipur. Os retratados de Emmanuel Santos parecem habitar exposição era dividida em quatro temas nucleares: Noite, Alvo- um mundo invisível que exige revelação em regime de urgência. É rada, Luz e Crepúsculo. Fixar pelo signo da imagem aquilo que por isso que esses fragmentos de história sempre estão em primei-ro plano, pois o fotógrafo não utiliza montagens nem cenários parafins estéticos. Para ele, a estética está a serviço da realidade, nabusca de traços comuns, que, apesar de particulares, revelam-seuniversais na lente do fotógrafo.
Emmanuel Santos nasceu em 1957, nas Filipinas. Como fotó- grafo, especializou-se em etnologia, o que justifica que grande par-
te de sua obra reflita seu interesse pela vida de populações diver-
sas. Seu trabalho inclui fotografias de rituais e de práticas cultu-
rais de filipinos, australianos, vietnamitas, chineses e judeus. Para
registrar o cotidiano de comunidades judaicas, matéria de
Observances, visitou, nos últimos quinze anos, Rússia, Ucrânia,
Bulgária, Índia, Estados Unidos, França, etc, inclusive o Brasil.
Paixão pelo judaísmo
Por conta disso, as fotografias de Emmanuel Santos revelam-se uma metáfora de sua compreensão particular do mundo e douniverso à sua volta. Captar um fragmento da realidade, fixando-o dentro de determinados limites, é a chave para compreenderseu método de trabalho. No entanto, existe a preocupação paraque tal fixação dos limites abra para uma realidade mais ampla,como uma versão significativa, ou melhor, como uma revelaçãodos links possíveis entre a comunidade judaica e resto do mundo.
Na página oposta, Purim com os lubavitchers (Austrália, 1987);
As fotografias de Emmanuel Santos recuperam o sentido de Crianças no Mea-Shearim (Israel, 1994); A união do entendimento
(Austrália, 1999) e Elefante hindu visita a escola hassidica Magen
uma reflexão de Walter Carvalho, que entende a fotografia como (India, 1989). Acima, 3º dia de chanucá (Ucrânia, 2002)
um ato de reter uma memória: “Fotografo para guardar aquilo quemesmo desaparecendo, permaneça existindo”. Mais do que ex- está sempre ameaçado pelo esquecimento é a estratégia do fotó- por a paixão pelo judaísmo e pelos rituais de um povo que con- grafo Emmanuel Santos, que alia a temática da viagem a um tinua fiel à espiritualidade, Observances é um ensaio fotográfico
compromisso humanista de preservação da tradição. Observances
que experimenta e, por extensão, investiga o mundo por meio de pode funcionar como um documento precioso da história judai- imagens. Imagens que testemunham a experiência de povos que, ca, justamente pela preocupação em reforçar o que há de univer- apesar da modernidade, não rechaçam a tradição e lutam contra o que está sempre em vias de desaparecer.
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Source: http://www.ccjf.trf2.gov.br/atrium/atrium6/604_obse.pdf